Caros Encarregados de Educação:
Hoje recomeça o terceiro período com umas configurações completamente inimagináveis há umas semanas. Estamos em confinamento, a tentar preservar a saúde. Este recolher obrigatório da maior parte da população acarreta, na minha opinião, uma série de alterações no nosso modo de viver os dias. Algumas agradáveis, pelo menos à primeira vista, mas também outras nada pacíficas e, até mesmo, potencialmente perigosas. Poderia referir as limitações económicas, com agregados a verem o seu orçamento mensal a sofrer cortes porventura brutais. Poderia falar das situações de conflitos intrafamiliares que tenderão, agora, a serem agravados. E terei forçosamente que realçar que as situações de maior vulnerabilidade são as que mais sofrem com esta situação. Todos conhecemos a máxima “Quando a onda bate, quem se lixa é o mexilhão!” São estes os tempos que mais nos põem à prova. É esta a altura de apelarmos ao melhor que há em nós, a sermos verdadeiramente solidários com quem mais precisa. Apesar disso, queremos tudo fazer para que este tempo não seja totalmente desperdiçado naquilo que toca à Educação. Temos a colaboração nacional com a disponibilização das sessões pela televisão. É um apoio importante, mas complementar à ação da escola – os alunos precisam de manter a ligação com os seus professores. Por isso, construímos um plano de acompanhamento à distância para todos os alunos. Para este plano ser implementado, é absolutamente necessário que cada aluno tenha acesso à Internet – por smartphone, por tablet ou por computador. Graças à iniciativa da autarquia, estes acessos vão ser garantidos: serão disponibilizados - em regime de empréstimo e mediante a celebração de contratos de comprometimento entre a autarquia, o Agrupamento e Encarregado de Educação - tablets e/ou portáteis para os alunos que manifestamente deles careçam bem como planos de acesso à internet. Aqui, vamos ter que ser muito justos nas atribuições. Os recursos são limitados e não se destinam a quem dê jeito - são para ser emprestados a quem deles realmente necessite. Aos que, sem eles, não teriam forma de estar em contacto com a escola, com os seus professores. Sabemos bem que se cada aluno tivesse um portátil para uso exclusivo seria menos complicado gerir os acessos – mas não é disso que estamos a falar. Saber partilhar também é digno de ser valorizado. Ser solidário com quem mais precisa também o é. Não podemos ter uma Carta Ética aprovada no Agrupamento e, simultaneamente, uma conduta que não esteja em sintonia com a mesma. Os nossos filhos aprendem mais com o nosso comportamento do que com as nossas palavras – ao agir, educamos. O exemplo é o maior recurso educacional a que podemos lançar mão. Este não é um tempo de oportunismos. Todos conhecemos comportamentos reprováveis – não temos que os seguir! Todos sabemos que poderá haver pais que não poupem no tabaco, na bebida, nos excessos…e que se o fizessem, teriam possibilidades de dar aos filhos melhores condições. Porventura não o farão. Mas nós estamos aqui pelas crianças, não pelos seus pais. Não podemos castigar os filhos pelos comportamentos dos pais – “Educai as crianças e não será necessário punir os adultos” escrevia Pitágoras, 500 anos antes de Cristo. É isto que vos peço. Colaboração, responsabilidade, comportamentos éticos. Não façamos desta situação um Inferno maior.
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